O recente lançamento de um plano de um milhão de dólares após o flagelo do furacão Oscar no leste de Cuba confirma a disposição das Nações Unidas (ONU) de apoiar o país nas circunstâncias mais complexas.
Na última semana, a representação da organização no país apresentou, juntamente com as agências e os seus parceiros, a iniciativa que visa arrecadar 33 milhões de dólares para ajudar quase 150 mil pessoas de San Antonio del Sur, Imías, Maisí e Baracoa, os municípios mais afetados pelo furacão Oscar.
Conforme detalhado pelo coordenador residente da ONU em Cuba, Francisco Pichón, o projeto centra-se em seis setores vitais: água, saneamento e higiene; abrigos temporários, alojamento e recuperação precoce; educação; logística; saúde; e segurança alimentar e nutricional.
O plano apoiará os esforços para satisfazer as necessidades urgentes das pessoas mais afetadas, reativar a vitalidade dos serviços básicos e avançar para a recuperação dos territórios e dos meios de subsistência dos seus habitantes.
Anunciado recentemente em Havana e previsto para ser apresentado no passado dia 5 de novembro em Nova York, o apelo apenas confirma a vitalidade do trabalho conjunto das Nações Unidas no pequeno país insular, habituado a lidar com desafios como o furacão Oscar.
Além da urgência após o furacão, o Escritório da ONU em Cuba também promove o avanço dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, prioridade também definida pelo país e ratificada com o Pacto Futuro aprovado em setembro passado.
Este documento, apresentado aos líderes mundiais durante a última Assembleia Geral, inclui temas fundamentais como segurança e paz; transição digital e cooperação; ciência, tecnologia e inovação; e a necessidade de dar mais espaço aos jovens e às novas gerações.
Estas linhas estratégicas também aparecem no plano-quadro de cooperação entre o Governo cubano e a ONU, que vai desde a transformação económica e produtiva até ao fortalecimento dos sistemas alimentares locais ou da biotecnologia.
O próximo programa conjunto Cuba-ONU, que decorrerá de 2026 a 2030, centra-se na resposta às transformações sociais e aos desafios enfrentados por sectores como a saúde ou a educação.
É um quadro de cooperação para o desenvolvimento sustentável, onde a economia desempenha um papel fundamental nesse processo, explicou Pichón em entrevista à Prensa Latina.
“Cuba é um país com liderança especialmente com os países do Sul global, que tem apoiado os princípios da Carta das Nações Unidas e do multilateralismo, e com um papel importante na reforma da governação global”, reconheceu o responsável.
COLABORAÇÃO ANTI-BLOQUEIO
Para o coordenador residente, o intercâmbio com o país caribenho também se adaptou às restrições económicas que impactam inclusivé no financiamento ao desenvolvimento.
“Alguém disse que a nossa cooperação foi uma cooperação de medidas anti-coercivas, no sentido de que sem dúvida muito do trabalho que fazemos na área económica procura acompanhar o país na adaptação às restrições”, comentou.
Neste cenário, o financiamento ao desenvolvimento é uma das áreas mais importantes do atual quadro de cooperação na busca de novas alianças como a recentemente concedida através do Banco Centro-Americano para o setor de biotecnologia.
Apesar do contexto complexo, Pichón lembrou que Cuba mantém um índice estável de desenvolvimento humano e resultados em indicadores como saúde, desenvolvimento científico ou educação.
A colaboração ONU-Cuba também conseguiu mobilizar recursos importantes para a transformação climática e para a formação e promoção de novos intervenientes económicos.
O trabalho das Nações Unidas é muito mais do que a sua sede em Nova Iorque, acrescentou o representante, reconhecendo também os desafios que a organização enfrenta na transformação da ordem e das principais entidades mundiais.
“É uma instituição criada num momento diferente dos desafios que temos e que torna urgentes as reformas face à fratura da governação global, como o Conselho de Segurança”, acrescentou.
Na sua opinião a implementação destas transformações depende muito da vontade dos países de não colocarem os seus próprios interesses em primeiro lugar para a conquista de um futuro comum.
“Tenho muito prazer em trabalhar ou servir num país como Cuba, que com a sua política externa demonstrou exatamente isso: uma política baseada em princípios, capaz de colocar o benefício global comum à frente dos seus próprios interesses”, sublinhou.