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Juana, a mítica

Vive e não baixa a guarda. Em alguma ocasião, ela disse que ia durar até o fim dos tempos, enquanto pensava, com toda a razão, que ela estava fora do tempo. Embora não do espaço Cuba, porque é cubana de quatro costados. Juana Bacallao, Juana a cubana, mítica, surrealista, original, completou em 25 de Maio, seus 95 anos de idade.

Autor: Pedro de la Hoz | pedro@granma.cu

junho, 2020

 

 

Neris Amelia Martínez Salazar, mais conhecida como Juana Bacallao. 

Foto: Pedro Beruvides

 

Vive e não baixa a guarda. Em alguma ocasião, ela disse que ia durar até o fim dos tempos, enquanto pensava, com toda a razão, que ela estava fora do tempo. Embora não do espaço Cuba, porque é cubana de quatro costados. Juana Bacallao, Juana a cubana, mítica, surrealista, original, completou em 25 de Maio os seus 95 anos de idade.

Ela compartilha histórias certas e incertas, atribuídas e apócrifas, fábulas de variada espécie que alimentam o mito. Cada compatriota, de ontem e de hoje, sente-se co-protagonista ou testemunha de uma anedota onde Juana ocupa o papel principal.

Mas dessa Juana eu não vou escrever, mas sim daquela que pertence à cultura popular, à música cubana. A partir do momento em que Obdulio Morales descobriu a voz de uma garota negra, de vinte e tantos anos, que cantava enquanto limpava o chão de uma casa onde trabalhava como empregada, o maestro soube que ela era uma jóia que não era preciso polir demais, que não requeria sofisticação, que com algumas lições rudimentares do palco e o ajuste necessário ao desempeno da orquestra, podia passar da guaracha ao pregão, do son ao nascente mambo.

O outro foi uma contribuição 100% sua: a ocorrência inquietante, o desembaraço sem limite, saber quando entrar ou sair de cara ao público, a zombaria e a paródia, começando por ela própria.

O maestro Obdulio levou-a ao palco do teatro Martí e compus uma peça à maneira de carimbo pessoal, que mudou a vida da garota, porque o nome real dela era Neris Amelia Martínez Salazar, até que cantou Yo soy Juana Bacallao, com tanto gosto que, em 1953, Rosita Fornés a retomou para a trilha sonora do filme Tin Tan en La Habana.

Juana converteu-se em uma criatura dos shows nocturnos — não da televisão; frequentava a rádio, mas nas telas do país, na época, no encaixava por ser negra, grosseira e imprevisível — e nas noites da década de 50 e daí em diante, Juana sempre teve um lugar, nas horas boas e más, as boas da década de 60, quando liderou o elenco de um show absolutamente delirante: La Caperucita se divierte, justamente ao lado de alguém que não deve ser esquecido; Dandy Crawford.

A artista sente-se regozijada entre seu pessoal. Mais de uma vez disse que a Revolução a converteu numa pessoa, e eu sei que Fidel Castro e Juan Almeida ocupam um lugar especial em seus afectos pessoais.

Juana nos regozija até a surpresa, mas deve ser levada a sério porque é única, irrepetível, inimitável. E, naturalmente, em seus 95 anos, incombustível

 

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