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A dança dos milhões

Por que o presidente do Comité Olímpico Internacional (COI) afirmou que se os Jogos Olímpicos de Tóquio não são celebrados em 2021 poderiam ser cancelados de vez?

Autor: Oscar Sánchez Serra | informacion@granma.cu

Junho, 2020

 

Foto: AYM.SPORTS

 

Quanto será preciso esperar para ver novamente os campeões do desporto mundial sob os cinco aros olímpicos.

 

Porque razão o presidente do Comité Olímpico Internacional (COI) afirmou que se os Jogos Olímpicos de Tóquio não fossem celebrados em 2021 poderiam ser cancelados de vez?

Embora a notícia do adiamento para Julho do ano próximo tivesse vindo a público em Março, é agora — quando a Covid-19 ainda não tem uma vacina que a possa parar, continua e continua a crescer em várias nações, como os Estados Unidos, Brasil e o Chile, e a Organização Mundial da Saúde faz um alerta acerca do perigo da confiança diante da doença — que as interrogações são mais sérias, pondo em dúvida a realização dos jogos para a data prevista.

Neste desportivo concerto elitista há no meio uma verdadeira dança dos milhões. Há já 21 anos, o líder da Revolução Cubana, Fidel Castro, expressava como crescia exponencialmente e progressivamente o método de atribuir a sede de um evento desse tipo como se fosse um leilão, «onde o país que tem mais dinheiro e oferece mais coisas tem a possibilidade de ganhar a sede».

Por exemplo, estima-se que o custo dos Jogos de Tóquio seja de 12 bilhões de euros, distribuídos entre os que investiram a cidade-sede (5,037 bilhões); o comité organizador (5,087 bilhões) e o Estado Central (1,2 bilhão). Um novo adiamento tornaria ainda maiores esses números. A isso acrescenta-se que Tóquio-2020 estava destinado a converter-se no evento desportivo com maior número de patrocinadores da história, cujos montantes nos preparativos eram por volta de US$ 25 bilhões, enquanto as empresas japonesas e outras internacionais investiram US$ 3,1 bilhões. A esse respeito, os economista da Nomura, a maior firma japonesa das finanças, prevêm que o cancelamento dos Jogos afectaria a confiança do consumidor japonês, além de privar o país de dois bilhões de euros em receitas ligadas aos espectadores estrangeiros.

Entre as razões pelas quais o titular do organismo internacional do olimpismo, Thomas Bach, fez aquela afirmação, também deve estar o número de pessoas empregadas indirectamente. Os jogos olímpicos precisam de entre três mil e cinco mil pessoas para esses postos, pelo que continuar a demorar os jogos mais tempo, e diante de uma nova reprogramação, seriam muito difíceis de custear.

Ao aspecto económico acrescentam-se os critérios desportivos, hoje com grande impacto no calendário internacional, inclusive, para a elegibilidade, por idade, de algumas disciplinas, como a ginástica e o futebol. Os atletas da ginástica rítmica, para a sua inscrição, deviam completar os 16 anos no ano dos Jogos, quer dizer, 2020. No caso do futebol, estabelece-se um torneio de menores de 23 anos. A FIFA manteve no seu sistema de classificação que os atletas que nasceram a partir de 1º de Janeiro de 1997 possam ser escolhidos para suas selecções nacionais pelo que, os que completarem 24 anos em 2021 poderão ir a Tóquio, se assim for a escolha do treinador.

Claro que a festa desportiva mundial seria um presente depois destes dias de tensões; mas hoje os Jogos Olímpicos de Tóquio têm mais perguntas do que prognósticos de medalhas ou tertúlias acerca de que país ou quais atletas vão ocupar as manchetes dos principais órgãos de informação. O que não deve deixar dúvidas é que nada é mais importante que a vida, nem as medalhas nem as emoções que nos fazem viver esses Jogos, e ainda menos os milhões. Caso não haja segurança para preservar a condição humana, os Jogos Olímpicos podem esperar.

 

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