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Guerra psicológica contra Cuba: procura profundidade para escapar do eco

Em Cuba, somos alvo de maquinações de guerra psicológica. Devemos estar cientes desse facto para que, quando tomemos partido, o façamos, sabendo que cada um de nós é o campo de batalha em que essa luta é realizada sem quartel e sem descanso

Autor: Ernesto Estévez Rams | internet@granma.cu

Fevereiro 2020

Foto: El Periódico

 

Umberto Eco, o filólogo italiano, semiólogo, mas mais conhecido como romancista, comentou, pouco antes de sua morte, que uma nova função útil dos jornais poderia ser a análise de páginas da web. Este serviço, argumentou Eco, foi justificado pela proliferação explosiva de informações que a web gerou sem nenhuma validação, o que causou a inundação dos leitores com conteúdo francamente idiota.

Suspeito que o seu remédio tenha potencialmente o risco de ser pior que a doença. Ele pressupõe que os jornais tenham um status especial em relação a outras mídias em termos de validação das informações fornecidas, quando sabemos que esse não é o caso. Hoje, muitos jornais do mundo, pressionados pelo mercado ou pela ameaça de ficar sem leitores, tornaram-se tão tóxicos, ao gerar conteúdo ideotizador e ideotizado, como a página mais idiota do Facebook.

 De fato, apoiando-se na ideia particularmente reacionária do pós-verdade, os extremos são as chamadas fazendas de notícias que criam conteúdo informativo de maneira automatizada, usando modelos e preenchendo-os com frases locais para tornar as notícias mais próximas do leitor, tanto na Malásia como em Cuba

Aparece constantemente conteúdo na minha página do Facebook que me diz como, no município de Plaza de la Revolucion, está predominando um determinado produto que não é vendido em Cuba no mercado formal, nem no informal. Programas de computador que utilizam tecnologias relativamente novas, como redes neurais, são capazes de revisar milhões de páginas digitais, gerando, sem intervenção humana, conteúdos automáticos como se tivessem sido escritos por um ser humano.

 Na maioria das vezes, essas notitontas ou bobagens, como preferem, são de natureza genérica, idiotices no estilo da ciência mostram que dormir no lado esquerdo da cama o torna mais inteligente, mas sem dúvida há intenções mais perversas e mais sofisticado (para um exemplo disso, dependendo da reclamação, visite o site http://www.elsewhere.org/pomo/, todo o conteúdo nele é gerado automaticamente).

 Com base nessas mesmas tecnologias automáticas, outra prática desonesta é também a análise de cenários em que parágrafos inteiros de julgamento são escritos, de acordo com certo viés editorial ou intenção manipulativa, que são misturados com outros parágrafos criados por algoritmos para se adaptar aos contextos que vão emergindo.

 É assim que a velocidade é entendida com quantas respostas aparecem, mais ou menos longas, dentro de alguns segundos após outras notícias. Um exemplo recente é a velocidade de segundos com que o conteúdo foi gerado na rede para atacar a eleição do novo primeiro-ministro de Cuba. Não havia centenas, mas milhares de publicações num intervalo muito curto.

Dificilmente, muitos poderiam estar cientes de quem seria eleito e, em vez disso, pensa-se que eles elaboraram perfis de todos os potenciais elegíveis, dentro da Assembleia Nacional, para poder criar as notícias tão rapidamente quanto a campanha precisava ser montada.

Por trás desses geradores, existem não apenas tecnologias de computador, mas décadas de estudos sociológicos e psicológicos de manipulação de massa que acabaram desenvolvendo tecnologias igualmente perversas para influenciar grupos humanos. Sem dúvida, novas no seu escopo, são as tecnologias na manipulação das imagens ou na mineração de informações capazes de encontrar, quase instantaneamente, fotos falsas ou outras mais subtis que, tiradas do contexto, se adaptam à mensagem que se quer levar ao consumidor. É assim que vemos fotos de manifestações nas Filipinas de alguns anos atrás, mostradas como manifestações na Venezuela hoje.

Vimos o poder de todas essas novas coisas antigas na eleição de Trump, no referendo do Brexit, nas eleições no Brasil e poderíamos seguir a lista.

Embora os postulados em que esses engajadores repousam sejam muito mais antigos que Goebbels, que os sistematizaram e teorizaram, tão antigos quanto a sociedade dividida em classes, o grau de sofisticação totalitária que eles alcançaram hoje é incomparável na história humana, a tal ponto que alguns afirmam que a sociedade global de hoje não é a sociedade do conhecimento, mas um estado de coisas que antes responde a uma sociedade de desinformação, como resultado do abarrotamento de conteúdo informativo não solicitado.

 Não acreditamos que em Cuba estamos além do alcance de tais fenómenos. Pelo contrário, somos o alvo consciente dessas maquinações da guerra psicológica. Devemos estar cientes desse fato, para que, quando tomemos partido, o façamos, sabendo que cada um de nós é o campo de batalha em que essa luta se trava sem quartel e sem descanso e da qual não podemos escapar.

A melhor maneira de se equipar para esta batalha que ocorre em nós e sem o nosso consentimento, continua a ser a velha máxima da Revolução: não acredite, leia. E dizendo ler, hoje o conceito é mais amplo do que simplesmente ler um texto. Infelizmente, no pátio, temos uma boa dose de conteúdo de sucata gerado por nós mesmos, quando deveríamos, neste momento, ser melhores no nosso comércio. Porque quando se diz que leia, a coisa verdadeiramente revolucionária é adquirir a capacidade de analisar além das manchetes. Diante da anedota, procure as razões, as causas dos fenómenos. Diante do apelo irracional aos impulsos, vamos nos opor à racionalidade do intelecto. Porque se é uma questão de entendimento, e não de repetir que conteúdo mal direcionado doutrinado, a Revolução tem a vantagem discursiva de ser portadora de uma ordem social e económica que aspira à redenção humana e não à sua redução a meras mercadorias. A Revolução é feita apenas com seres plenos, e não aspiramos a menos.

AAPC Fev. 2020

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