Skip to content Skip to footer

José Marti (28.01.1853/28.01.2018)

 

“Os déspotas ignoram que o povo, a massa dolorida é o verdadeiro chefe das revoluções; e acariciam aquela massa brilhante que, por parecer inteligente, parece ser quem influi e dirige. E dirige, na verdade, com direcção necessária e útil enquanto obedece-enquanto se inspira nos desejos enérgicos que com fé cega e confiança generosa puseram o destino nas suas mãos. Mas quando, pela sua própria debilidade, desatendem o encargo do seu povo e, assustados com a sua obra, a detêm; quando aqueles a quem teve e elegeu por bons, com a sua pequenez o apoucam e com a sua vacilação o arrastam, o país altivo sacode o peso dos ombros e continua impaciente o seu caminho, deixando atrás aqueles que não tiveram bastante coragem para continuar com ele”

José Marti, o Cavaleiro da Liberdade

 

Profundamente enraizada no seu espírito e na sua carne, desde a infância até à morte heroica em quase cumpriu, a ânsia de independência da pátria foi a chama generosa que iluminou toda a existência de José Marti.

Dotado de sensibilidade literária, com múltiplos talentos que se manifestaram na crónica, no romance e na poesia, foi todavia a palavra de combate que ele assumiu como missão. E este livro é testemunho bem forte e claro dessa escolha, dessa dádiva permanente. Aqui encontramos o seu verbo de advogado brilhante, por vezes altissonante, ao gosto romântico, onde ecoam as grandes vozes da melhor literatura do seu tempo, sempre ao serviço da redenção de Cuba. Uma mente simultaneamente lúcida e apaixonada, que sempre alimentou e estimulou o sonho e a esperança dos que no exílio, como ele, ou, como ele também, no solo cubano, minado de perigos e ameaças, à sombra da conspiração ou à clara luz dos desafios prosseguiam essa luta que desde 1868 a 1895 nunca deixou de habitar o coração dos resistentes. A nobreza de alma de José Marti, tão transparente e a grandeza do seu sonho e justiça e liberdade, arde em cada página deste livro. Ele dá ânimo e persistência àqueles que o cansaço pudesse rondar, chama à liça, com dureza e com amor, os que hesitam, vacilam ou choram sobre a sua fraqueza É, de certo modo, nos textos que aqui lemos, pronunciados em momentos decisivos do longo e persistente combate pela pátria humilhada, agrilhoada por alguns traída, o conselheiro, o profeta, o anjo da Revolução.

Porque é de facto revolução o que José Marti pretende. Mudança criadora de valores e de projectos em sintonia com o particular modo de estar na vida dos cubanos, em que ele se reconhece e que quer dirigir para a conquista da suprema liberdade, brancos, negros, mestiços, irmanados na devoção à pátria, na busca de uma forma superior de humanidade mais humana.

Pátria ou morte é o seu caminho, que flagrantemente já anuncia a revolução de 1959. Se esta deve muito a Fidel que a impulsionou desde o início e a governou por entre tantos acidentes de percurso e titânicas dificuldades (o bloqueio americano entre as maiores); se deve a Guevara a ideia fraterna dos estímulos morais, o sonho da perfeição humana e a coragem sem limites; deve a Marti o extremo idealismo aliado a um magistério cívico e ético que se dirige para a realização da justiça social, a igualização possível, a honra e a liberdade.

Marti foi um homem de honra cem por cento. A sua exigente dignidade de todos os momentos brilha nos textos ardorosos, tão altivos como fraternos, que escreveu.

Ouçamo-lo por instantes: “Os déspotas ignoram que o povo, a massa dolorida é o verdadeiro chefe das revoluções; e acariciam aquela massa brilhante que, por parecer inteligente, parece ser quem influi e dirige. E dirige, na verdade, com direcção necessária e útil enquanto obedece-enquanto se inspira nos desejos enérgicos que com fé cega e confiança generosa puseram o destino nas suas mãos. Mas quando, pela sua própria debilidade, desatendem o encargo do seu povo e, assustados com a sua obra, a detêm; quando aqueles a quem teve e elegeu por bons, com a sua pequenez o apoucam e com a sua vacilação o arrastam, o país altivo sacode o peso dos ombros e continua impaciente o seu caminho, deixando atrás aqueles que não tiveram bastante coragem para continuar com ele”

Assim falava Marti ao povo que ia encaminhando para os sacrifícios e entusiasmos que levam à vitória.

Cavaleiro da liberdade foi sempre, galopando acima dos interesses pessoais, das ambições mesquinhas, dos pactos pusilânimes. Sabia apontar os erros e as feridas a supurarem mesmo aos que o acompanhavam. É assim que se constrói uma Pátria e se lhe dá a liberdade.

Quanto a este valor porém, que é dos mais  puros e mais altos da vida de Marti, há que acautelar o mundo contra a sua manipulação, quando a realidade aparece aos olhos das maiorias inautêntica e desvirtuada, como é hoje o caso dos crimes contra a humanidade a que conduz a ideologia do liberalismo económico. Essa liberdade, em nome da qual se acumulam crescentes riquezas geradoras de desemprego e miséria e se aniquilam torturam e matam seres humanos, sejam eles terroristas ou não, essa não é por certo a liberdade de Marti nem a dos verdadeiros democratas desse conturbado início do século.

Os fariseus que hoje invocam a liberdade para legitimar as conquistas de um império que está semeando no mundo novas formas de escravatura que nada têm a ver com a pureza de José Marti quando ele convoca a liberdade para a festa da paz e do progresso. A essa vitória consagrou ele a sua existência, pela senda rude, mas eufórica, da revolução. E nessa batalha por Cuba, pela dignidade e felicidade de todos os seus patrícios, não é impossível vermos, com lente de aumentar, um caminho para Humanidade.

Leave a comment