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Retornar a Fidel quando a Amazónia queima

Passaram-se 27 anos daquela advertência de Fidel, na Cimeira do Meio Ambiente no Brasil, quanto a que uma espécie biológica — o homem — está sob o risco de desaparecer, devido à rápida e progressiva destruição das suas condições naturais de vida

“Os incêndios na Amazónia têm sido uma das notícias mais comentadas nos últimos dias internacionalmente, pois são uma das reservas naturais mais importantes do mundo e produzem 20% do oxigénio que respiramos.”

 

Autor: Elson Concepción Pérez | internet@granma.cu

Setembro, 2019

Foto: NASA

 

Era o dia 12 de Junho de 1992, no Rio de Janeiro, Brasil.

Fidel Castro falou — breve, mas com mestria — na Cimeira das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento.

Os presentes aplaudiram, embora houvesse alguns chefes de Estado na sala que não simpatizassem com o que ele dizia. Mas, pelo menos, reconheceram que as suas palavras eram verdadeiras.

O que aconteceu desde então nessa mesma questão da mudança climática a que Fidel se referia quando alertou que «uma espécie biológica importante corre o risco de desaparecer, devido à rápida e progressiva liquidação de suas condições naturais de vida: o homem»?

Hoje, quando o grande pulmão do planeta que é a Amazónia arde incontrolavelmente, tenho certeza de que essas palavras de Fidel ressoam nos ouvidos de muitos. Essas razões irrefutáveis.

Como explicar, então, que o actual presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, durante os primeiros 20 dias dos incêndios que devastam as grandes florestas, estava a culpar aqueles que «tentam minar a sua autoridade» ou «tirá-lo da presidência», e atacar, sem nenhuma evidência, as organizações não-governamentais, que ele acusou de «ter iniciado os incêndios»?, segundo refere uma informação da BBC.

Explicações científicas mostram que, devido ao derrube indiscriminado da floresta amazónica, ocorre o desmatamento que reduz o nível de chuva local e a floresta torna-se mais seca e, por sua vez, mais inflamável.

Portanto, é totalmente irresponsável que, numa questão como esta, que afecta toda a humanidade, se tenha deixado de lutar contra o fogo, nos primeiros 20 dias, o que causou uma das maiores devastações do ecossistema lembradas na história.

E volto a Fidel e ao seu discurso na Cimeira do Clima, quando disse: «as sociedades de consumo são fundamentalmente responsáveis pela destruição atroz do meio ambiente».

E exemplificou: «As florestas desaparecem, os desertos espalham-se, bilhões de toneladas de terra fértil vão para o mar todos os anos. Numerosas espécies são extintas. A pressão populacional e a pobreza levam a esforços desesperados para sobreviver, mesmo às custas da natureza. Não é possível culpar os países do Terceiro Mundo, colónias de ontem, nações exploradas e saqueadas hoje por uma ordem económica mundial injusta».

Após a Cimeira de 1992, muitas outras aconteceram. Seminários, workshops, compromissos não cumpridos, dinheiro que nunca apareceu para ajudar os países pobres a combater os efeitos das mudanças climáticas…

Foi assim que chegamos à Cimeira de Paris e, entre 30 de Novembro e 12 de Dezembro de 2015, foi elaborado o Acordo assinado por quase 200 chefes de Estado ou de Governo que se comprometeram a salvar a humanidade das adversidades do clima.

Parecia que entre os assistentes e signatários estava Fidel e que as suas palavras ecoavam nos ouvidos e nas consciências dos responsáveis por «salvar a espécie humana» porque «amanhã será tarde demais».

Mas a vida passou e, dois anos depois, em 2017, o mundo soube o quanto era capaz de fazer o novo presidente dos Estados Unidos, para romper com os principais acordos e convenções alcançados em anos de discussão, diálogo e entendimento mútuo.

Trump, numa de suas primeiras acções como presidente, rompeu com o Acordo de Paris. Descreveu a mudança climática como uma mentira e procurou a lata de lixo mais próxima para jogar os documentos assinados por seu antecessor, Barack Obama.

O pensamento futurista de Fidel, em 1992, de que «agora estamos cientes desse problema quando já é tarde demais para evitá-lo», não parece ser conhecido por esse homem, que do trono imperial ignorou o Acordo de Paris e muitos outros acordos essenciais para vida humana e a paz no planeta.

E por sinal, o presidente brasileiro Jair Bolsonaro — o Trump dos trópicos — quer imitá-lo quanto a sair do Acordo de Paris e ignorar os efeitos das mudanças climáticas.

Enquanto isso, a Amazónia queima e em algumas regiões do mundo parece preparar-se um ambiente de guerra, onde estreitos e mares também se podem inflamar.

NO CONTEXTO

– A Amazónia, a maior floresta tropical do mundo, ocupa uma área de 5,5 milhões de km2, dos quais 60% pertencem ao Brasil.

– A região amazónica havia perdido 5.879 km2 de florestas nos últimos 12 meses, 40% a mais que no ano anterior.

Este ano, foram detectados 39.601 incêndios. Entre Janeiro e Agosto de 2019, o número de incêndios florestais no Brasil aumentou quase 84%, em comparação com o mesmo período de 2018.

No ano passado, o mundo perdeu 12 milhões de hectares de florestas, incluindo 3,6 milhões de hectares de floresta tropical primária, segundo dados da Universidade de Maryland.

A Amazónia não é apenas o lar de centenas de povos indígenas e milhares de espécies de animais e plantas, mas também tem uma função fundamental para regular o clima e as chuvas.

Entre outras funções, é de grande ajuda para minimizar as mudanças climáticas, pois armazena milhões de toneladas de dióxido de carbono.

   

Setembro, 2019

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