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Quem dança ganha

Foi comemorado em Havana, com uma cantata, o 50º aniversário do primeiro concerto da orquestra Los Van Van, a mais popular de Cuba.

Autor: Pedro de la Hoz | pedro@granma.cu

Agosto 2019

 

Foto: Ariel Cecilio Lemus

 

Todo mundo que dançou, ganhou e cresceu com os sons da Pátria.

Tantas pessoas não podem estar erradas. Pessoas que, em 1969, na esquina das ruas 23 e P, em Havana, perguntavam o que iria acontecer com aquele grupo que estreava, formado por um músico que ainda fazendo parte da orquestra Revé se prefigurava como um renovador de música para os dançarinos, pessoas que vieram depois em ondas sucessivas e impregnaram com as músicas deste homem e da sua orquestra a trilha sonora das suas vidas. E pessoas muito jovens, as de agora, porque não acredite que os meninos de hoje, como alegam alguns, apostam apenas no patamar mais baixo de certos padrões urbanos.

Eu falo de uma realidade perfeitamente verificável. Aqueles que compareceram ao desvelamento da tarja que na parte baixa de La Rampa, em Havana, lembra que ali ocorreu, em 4 de dezembro de 1969, o primeiro concerto da orquestra Los Van Van, fundada e regida por Juan Formell e, portanto, o nascimento de uma lenda, foram convocados eles mesmos, como se quisessem congratular-se por ter memória e actualidade, com raízes e desejos de se orientar para o futuro.

Quando Samuel Formell e o ministro da Cultura, Alpidio Alonso, desvendaram a placa, os fãs de Los Van Van acharam que foram recompensados pela sua fidelidade. As palavras do crítico e realizador audiovisual Guille Vilar atingiram o alvo: a orquestra Los Van Van são os Beatles de Cuba, tanto quanto os Beatles se tornariam o Los Van Van da música anglo-saxônica. Cada um por sua conta quebrou laços, propôs mudanças e penetrou fundo na sensibilidade popular.

Formell estava ciente do que tinha nas mãos. Numa das nossas conversas frequentes, ele disse-me: «Os dançarinos são o ponto de partida e chegada do meu trabalho. Quando você respeita o dançarino, torna-se um sucesso. Todo mundo te acompanha, as gerações passam e vem outra que te faz dela. O povo cubano gosta de dançar muito, é um povo eminentemente dançante. O povo é a medida do sucesso, o que nos força a reinventar a cada dia».

E Cuba no epicentro da criação: «Eu não teria feito nada se vivesse fora de Cuba. Isso não me motivaria. Todo mundo que viveu uma Revolução é privilegiado. Embora fundamentalmente componha para as pessoas dançarem, reflito nos meus temas o que está na rua. Os dançarinos identificam-se com essas músicas e com o que eu digo nelas. Porque os dançarinos são protagonistas desse processo de mudanças, às vezes muito complexo, que influencia o modo de pensar, falar e de se conduzir dos cubanos».

Sob esse princípio, alguns com maior talento que outros, a música de dança cubana apresenta credenciais.

Prova disso o que aconteceu no dia da maratona do encerramento do festival de Timba Forever Formell, em 5 de agosto, no final da avenida 23, depois da placa ter sido desvendada. Todo mundo que dançou, ganhou e cresceu com os sons da Pátria.

Agosto, 2019

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