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Sobre a festa do livro

A Feira do Livro, como muitas outras que são apresentadas ao redor do mundo, oferece a oportunidade para a troca entre especialistas de diferentes lugares

Autor: Graziella Pogolotti | internet@granma.cu

 

 

Começou em La Cabaña e continua por todas as províncias do país. A Feira do Livro, como muitas outras que são apresentadas ao redor do mundo, oferece a oportunidade para a troca entre especialistas de diferentes lugares. É a ocasião propícia para organizar negócios editoriais.

Em Cuba é, acima de tudo, uma celebração popular. A fortaleza localizada na entrada do porto de Havana, adquire a aparência de acampamento, de diversão grupal para a família e crianças. Quebra a rotina da vida quotidiana. Desta forma, uma vez por ano, o livro torna-se o centro dos acontecimentos. Ocupa um espaço privilegiado na comunicação social. Depois continuará nos armazéns de livrarias e bibliotecas.

No entanto, na batalha por conquistar novos leitores, cidadãos activos, bem informados, motivados pela curiosidade e a fome de conhecimentos, dotados de espírito, capazes de escapar da manipulação da comunicação social e do íman sedutor do absurdo, impõe-se a necessidade de concretizar as políticas culturais em encadeamentos produtivos e efectivos com a participação de todos os factores que tornam a vida dinâmica. O suporte utilizado é de pouca importância, embora a impressão em papel esteja longe de ter desaparecido.

A leitura tem que se tornar um hábito desde as primeiras idades. Contra a sonolência mental, a acomodação ao uso de resumos simplistas, o uso fraudulento de cortar e colar, estimula a busca da verdade, desenvolve a capacidade de concentração e impulsiona a imaginação criativa. Uma sociedade de conhecimento e uma resposta adequada às demandas da inovação científica não podem ser concebidas sem essas qualidades. Subestimadas por muitos, a arte e a literatura incentivam a capacidade de sonhar. Os sonhos precedem a busca de soluções técnicas. Antes de seu tempo, Leonardo da Vinci projectou artefactos que, séculos depois, se tornariam realidades tangíveis. No século 19, Júlio Verne relatou as aventuras de viagens subaquáticas e explorações da Lua que se cristalizariam muito mais tarde. Já Félix Varela alertava em sua Miscelânea Filosófica que os gostos não brotam espontaneamente. São formados de acordo com o espírito de uma época e o subsequente estabelecimento de modelos.

Para nós, as políticas culturais devem ser orientadas para a revitalização de um clima criativo. Nesse caso, o encadeamento produtivo tem como ponto de partida os planos editoriais formulados em consulta com os conselhos assessores e executados pelos editores reais responsáveis pela revisão do texto e a elaboração de directrizes para o design gráfico, com base na natureza do potencial beneficiário.

Lembro-me dos maravilhosos Cocuyo, série conduzida por Ambrosio Fornet com um design austero e inconfundível de Raúl Martínez. De pequeno formato conjugavam o mais avançado da literatura mundial com páginas esquecidas de autores cubanos. Despertavam no leitor a tentação do coleccionador.

A implementação de uma política editorial, a fim de resgatar os hábitos de leitura, para chegar, como dizia a publicidade de um dentífrico conhecido “até onde a escova não toca” requer dar prioridade devida às livrarias e ao sistema de bibliotecas públicas e escolares.

Livreiros e bibliotecários devem adquirir a hierarquia e a formação profissional que o desempenho de suas funções requer. Na verdade, são os animadores culturais que trabalham no campo, em contacto directo com o destinatário. Devem ter a capacidade suficiente para sugerir, aconselhar, incitar. O vendedor precisa ter informações sobre as novidades e ter controle dos títulos que se acumularam no armazém, onde muitas vezes sucumbem sob o pó obras fundamentais da nossa cultura de ontem e de hoje.

Na medida em que pudermos, sem investir muitos recursos, impõe-se converter as livrarias e bibliotecas em locais aconchegantes, bem iluminados, com um lugar para sentar e calmamente rever os volumes em nossas mãos. Vamos banir os cantos onde, devido à falta de pessoal, os livros permanecem nas prateleiras. Vamos analisar as formas de incentivar o estudo da bibliologia e preencher vagas nas bibliotecas públicas e escolares.

Lembre-se que na escola, um bom bibliotecário assume o papel de professor, assessora na busca de dados para os trabalhos de pesquisa para evitar os pais suplantarem seus filhos na realização de tarefas e frustrem com isso o desenvolvimento de competências essenciais para o desenvolvimento da aprendizagem, o exercício do pensamento e a permanente actualização exigida por uma sociedade em constante transformação.

Trabalhei por dez anos numa biblioteca. Fui extraordinariamente feliz. Compartilhei a paixão de começar no prazer da leitura, das artes plásticas e da música com os poetas Eliseo Diego, Fina García Marruz e Cintio Vitier, com os pesquisadores Juan Pérez de la Riva e Zoila Lapique, com o compositor Argeliers León, com a historiadora de arte María Elena Jubrías. Lembro-me com emoção de Sara Fidelzeit, a companheira de Pérez de la Riva, que permanecia atrás do balcão da biblioteca da Escola de Letras. Ao seu redor, reunia estudantes em círculos de estudo controversos, incitadores do espírito crítico.

Bem-vinda seja a festa do livro. Mas, após a celebração anual, o convite para a festa não pode cair em uma zona de silêncio.

 

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