O Granma Internacional fala com Teresa Amarelle Boué, Secretária-Geral da Federação das Mulheres Cubanas (FMC), sobre os desafios da primeira organização de massas criada pela Revolução, que celebrou seu 10º Congresso de 6 a 8 de Março
Autor: Alejandra García | informacion@granma.cu
Foto: Dunia Álvarez Palacios
«Temos que ser mais ágeis, mais dinâmicas, adaptarmo-nos aos tempos», disse Teresa Amarelle Boué, secretária-geral da FMC.
8 de Março é um dia de luta para muitas mulheres em todo o mundo. Elas saem às ruas, com faixas e alto-falantes, para exigir direitos como acesso à educação e um trabalho decente, ao planeamento familiar, a participarem mais dos poderes de decisão… Os governos quase nunca ouvem suas reivindicações e no ano seguinte a história se repete. Em Cuba, a imagem é diferente.
Há 60 anos as mulheres cubanas têm voz e gozam dos direitos que muitos países sonham em ter algum dia. «Temos sido, como disse Fidel, uma Revolução dentro da Revolução», disse ao Granma Internacional a secretária-geral da Federação das Mulheres Cubanas (FMC), Teresa Amarelle Boué.
Hoje, as mulheres representam 53,22% dos cargos ocupados na Assembleia Nacional do Poder Popular, o mais alto órgão legislativo do país; e constituem 48,4% dos membros do Conselho de Estado. Além disso, elas compõem 60,5% dos graduados do ensino superior e 67,2% dos técnicos e profissionais em todo o país…
«Essas conquistas não foram fortuitas», disse a secretária da primeira organização criada após o triunfo revolucionário. «É o resultado do esforço das mulheres cubanas e da vontade política do nosso governo. Por isso, temos muito a comemorar no 10º Congresso da Federação, que começou em 6 de Março na capital».
MULHERES DO SEU TEMPO
«Desta vez concebemos o Congresso de maneira diferente, mais dinâmica e mais próxima das bases», disse Teresa Amarelle.
Durante dois dias estiveram reunidas quatro comissões em diferentes instituições da cidade, nas quais foram analisados o papel da organização e sua função mobilizadora no contexto de actualização do modelo económico, igualdade de género na família e na sociedade, juventude como garantia da continuidade do FMC e seu funcionamento.
«O que fazer a partir de nossas bases para estar mais perto de cada afiliada? Como amar e conquistar a vontade de nossas jovens para que continuem amando a organização unitária genuína, autêntica e inclusiva que criamos entre nós todas? Estas são algumas das questões que motivaram os debates», acrescentou.
«Também não esteve faltando a reflexão de todas sobre a igualdade de género na sociedade e na família», disse.
«Embora os avanços no caminho para a igualdade de género em Cuba tenham sido enormes, nos últimos 60 anos, os padrões sexistas continuam predominando na Ilha», disse.
Isso é evidenciado por alguns resultados da Pesquisa Nacional sobre Igualdade de Género, realizada em 2016, envolvendo quase 20.000 moradores cubanos. Deles, 28% entre 15 e 29 anos de idade.
«Embora a maioria dos entrevistados reconheça que não há discriminação em nossa Ilha», afirmou Amarelle, «e 74% afirmem que a orientação sexual de cada pessoa deve ser respeitada, apenas metade dos entrevistados aceita que duas pessoas do mesmo sexo possam se casar».
As mulheres compõem 60,5% dos graduados do ensino superior e 67,2% dos técnicos e profissionais em todo o país.
Por outro lado, devemos também alcançar uma divisão equitativa das tarefas domésticas, tanto na esfera social quanto na esfera pública. «Desta forma, evitamos que a mulher esteja sobrecarregada com as responsabilidades que lhe foram atribuídas socialmente, ao longo da história», disse.
São tópicos que não faltaram nos três dias do congresso, dos quais participaram 360 delegados e 40 convidados.
NAS COMUNIDADES, PERTO DE TODOS
«Nossa prioridade neste novo Congresso é atingir as comunidades», valorizou a secretária, «o que representa um enorme desafio nas condições actuais».
«Hoje nossas mulheres estão assumindo responsabilidades em outras frentes da sociedade, participam activamente da economia do país; portanto, a maioria não está no lar».
«Trabalhar nas comunidades requer muita precisão e organização. Não se trata de convocação, nem a estratégia pode ser a mesma em todas as comunidades».
«Isabelita Moya, uma jornalista e defensora dos direitos das mulheres, a quem prestamos homenagem hoje em dia, disse-nos: «A FMC, como diz a música de Sílvio Rodríguez, não é a mesma de anos atrás, mas é a mesma coisa».
«Hoje, embora as tarefas sejam as mesmas, o caminho para alcançar as novas gerações deve ser diferente, deve estar de acordo com seus gostos e necessidades», reconheceu Amarelle.
«Nesse sentido, nossas Casas de Orientação para as mulheres e a família desempenham um papel essencial. Também as equipes multidisciplinares de procedimento familiar, trabalhando em conjunto com os tribunais para fazer uma avaliação mais social e humanista dos conflitos familiares».
«Aí buscamos que esses problemas possam ser resolvidos sem que o tribunal tenha que ditar uma medida administrativa ou judicial. Essas duas tarefas são as missões mais bonitas que a Federação tem», disse.
DESAFIOS PELA FRENTE
Para Vilma Espín, a eterna presidenta de nossa organização, a Federação era nada mais do que um programa de igualdade, de busca de justiça social, de apoio. «Colocamos todo o nosso esforço em manter essas premissas», destacou Amarelle.
No entanto, ainda há muito a ser feito. «Temos que ser mais ágeis, mais dinâmicos, nos adaptarmos aos tempos. O país está actualizando seu modelo económico, e devemos nos unir a essas mudanças, adaptando nosso conteúdo, para conseguir maior participação das mulheres na vida da organização e do país».
«Nesse esforço», acrescentou, «estamos promovendo a inserção de mulheres jovens no serviço militar voluntário das mulheres; promovendo a sua formação profissional, para que optem por carreiras não convencionais. Além disso, estamos aperfeiçoando o treinamento das Casas de Orientação, para que estejam de acordo com as necessidades económicas de cada município».
«Temos de continuar, apesar de todas as conquistas. Não negligenciar as lacunas que permanecem ou os desafios que estão por vir. Devemos ponderar o que já alcançamos como um programa de igualdade e não poderíamos fazê-lo sem que as mulheres se comprometam com o seu tempo».