A ofensiva de direita na América Latina e no Caribe coloca a região diante da premissa exposta por José Martí de «plano contra plano»
Yisell Rodríguez Milán | internet@granma.cu
As forças de esquerda mobilizam-se na América Latina e no Caribe para enfrentar a ofensiva de direita que, motivada e apoiada financeiramente pelos Estados Unidos, pôs em xeque a região por meio de estratégias centradas na desestabilização política e no descrédito dos governos progressistas que estão ou estiveram no poder.
Políticos, intelectuais e representantes dos movimentos sociais avaliam a mudança desfavorável na correlação de forças que se manifestou nos últimos anos e traçam planos de acção, vindo a constituir um sinal de vitalidade o triunfo do candidato progressista Andrés Manuel López Obrador, no México.
«A tempestade chegou e fechou a janela aberta no final dos anos 90. (…) A pergunta que se coloca agora, especialmente para a esquerda brasileira, é como abrir a janela novamente», escreve Valter Pomar, membro do Partido dos Trabalhadores do Brasil e professor das Relações Internacionais, da Universidade Federal do ABC, no seu ensaio ‘Como abrir a janela novamente’.
Na sua opinião, a esquerda precisa de candidatos fortes para concorrer com a direita nas eleições, mas não é suficiente, porque a «utilidade» estratégica dos parlamentares e governadores aumenta ou diminui dependendo da linha política e do nível de organização extra-institucional, o que implica mudanças nos métodos de trabalho da esquerda e a recuperação de espaços perdidos junto da classe trabalhadora.
Na América Latina, «o desafio para essas possíveis esquerdas é construir alternativas ao capitalismo na esfera económica, onde a aposta é a liberalização da economia, a total desregulamentação da mesma (excepto quando precisam do Estado para desmantelar as conquistas do ciclo progressivo); mas acima de tudo, construir alternativas no campo cultural, disputar a hegemonia capitalista na cultura (e nos média) para construir pessoas e cidadãos não-consumidores diluídos na falsa ilusão da classe média», publica, por sua vez, o cientista político Katu Arkonada, no blog da Telesur.
Por sua vez, o ensaísta, jornalista, sociólogo, cientista político e professor universitário Olmedo Beluche, escreve em Rebelion.org: «Sem a nacionalização da banca e do sistema financeiro nacional, sem o controle estatal do comércio exterior e sem a nacionalização da grande indústria isto é, sem medidas elementares realmente socialistas, os governos latino-americanos, em geral, estão a mercê da burguesia, do imperialismo e da sabotagem económica, como prova repetidamente o caso da Venezuela».
«Essa contradição, argumenta ele, explica as limitações da esquerda e a dificuldade de responder à ofensiva da direita nacional, apoiada pelo imperialismo norte-americano, ao qual se soma a atitude reformista de líderes que se submetem docilmente aos formalismos das instituições burguesas.»
A maioria dos analistas concorda que o ciclo progressista no sul do continente está em crise, mas não é o seu fim, porque embora fosse possível expulsar alguns governos populares do poder e do aparelho estatal, através de eleições (Argentina) ou manobras legais e judiciais (Brasil), não caiu o núcleo duro da mudança da era progressista: Bolívia e Venezuela, que acompanham a Nicarágua e a Revolução Cubana.
«Os dois projetos, junto com a Nicarágua e Cuba, que se propuseram ir além das relações capitalistas, a longo prazo, são aqueles que se mantêm, indicando que a batalha estratégica do nosso tempo é a defesa desses processos», ficou claro durante a 24ª Reunião Anual do Fórum de São Paulo, realizada em Havana, em Julho passado.
Neste evento de concordância das forças políticas da região, algumas propostas de ação foram levantadas com base na ideia de que os espaços de poder conquistados pela esquerda devem ser fortalecidos, em função da construção da hegemonia e do poder popular. Os povos com consciência política são sempre o melhor antídoto contra a viragem à direita na América.
UMA ESTRATÉGIA A PARTIR DA ESQUERDA
→ Espalhar sistemática e criativamente as realizações económicas, sociais e políticas das experiências do governo que, por uma razão ou outra, sofreram grandes retrocessos, bem como os das experiências do governo que perduram;
→ Incentivar um debate sereno e construtivo sobre os limites históricos, políticos e ideológicos de cada um dos processos;
→ Buscar mecanismos mais eficientes de organização, consciencialização e participação política das bases sociais comprometidas com a mudança pós-neoliberal;
→ Renovar as relações entre os partidos políticos de governo e os movimentos populares com posições nacionalistas e patrióticas, e com posições favoráveis à existência de um Estado que garanta um funcionamento democrático no manejo das divergências e na construção do consenso;
→ Construção de consenso com segmentos da sociedade com quem mais se identificam e têm interesses relacionados, ou potencialmente relacionados aos da mudança revolucionária e/ou progressiva;
→ Fortalecer, como um símbolo de luta anticolonial, a causa da independência de Porto Rico;
→ Promover a participação activa dos povos e das maiorias nacionais nos processos políticos de cada nação;
→ Oferecer apoio determinado e estimular os esforços de emancipação e os ideais anticapitalistas dos movimentos sociais e populares;
→ Promover esforços que nos permitam avançar na integração soberana, da qual José Martí chamou Nossa América;
→ Concordar em todo espaço internacional, que o permita, qualquer acção que enfraqueça os níveis de dominação e hegemonia dos Estados Unidos nos nossos países, é algo essencial e possível.