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A firmeza de Cuba diante dos senhores da guerra

No momento em que registamos a efeméride do crime de Barbádos, relembrando e homenageando as vítimas do terrorismo movido pela mão do imperialismo Americano contra Cuba que vitimou 3.478 dos seus filhos e que assinalamos mais um ano passado sobre a morte de Ché Guevara, pensamos ser oportuno a transcrição de um excerto de Eduardo Galeano lido na sua nomeação como Doutor Honoris Causa pela Universidade de Havana em dezembro de 2001.

Trinta anos atrás, eu perguntava-me sobre a atitude do governo dos Estados Unidos, que proibia os seus cidadãos de viajar livremente para Cuba: «Se esta Ilha é, como dizem, o inferno, por que os Estados Unidos não organizam excursões para que os seus cidadãos conheçam e se desapontem?».

Agora, continuo-me a perguntar.

Há dez anos, eu tinha outra pergunta sobre a ‘infernização’ de Cuba: «Por que vão confundi-la agora com o inferno, se nunca foi confundida com o Paraíso?»

E agora continuo a perguntar.

Nenhum inferno, nenhum Paraíso: a Revolução, uma obra deste mundo, está suja de lama humana e, precisamente por causa disso, e não apesar disso, ainda é contagiosa.

Não são muito honrados, digamos, estes tempos em que vivemos. Parece que está em andamento a Copa do Mundo de Tapetes. Tem-se a impressão, e espero que seja uma impressão errada, que os governos concorrem uns com os outros para ver quem é melhor a rastejar no chão e quem se deixa espezinhar com maior entusiasmo. A competição veio de antes, mas desde os ataques terroristas de 11 de Setembro, há quase uma unanimidade na submissão oficial aos patrões do mundo.

Quase unanimemente, eu digo. E digo que hoje tenho orgulho de receber esta distinção no país que mais claramente colocou os pontos nos is dizendo não à impunidade dos poderosos, o país que mais firme e lucidamente se recusou a aceitar este tipo de permissão universalmente concedida aos senhores da guerra, que em nome da luta contra o terrorismo podem praticar por capricho todo o terrorismo em que possam pensar, bombardeando quem quiserem e matando quando quiserem e a quem quiserem. Num mundo onde o servilismo é alta virtude; num mundo onde aqueles que não vendem, alugam, é estranho ouvir a voz da dignidade. Cuba está a ser, mais uma vez, a boca dessa voz.

Essa Revolução, punida, bloqueada, caluniada, fez muito menos do que queria, mas fez muito mais do que poderia. E aí está. Ela continua cometendo a perigosa loucura de acreditar que os seres humanos não estão condenados à humilhação.

 

Granma

Autor: Eduardo Galeano | internet@granma.cu

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