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Pesquisas revelam que o público prefere notícias online

Pesquisas revelam que o público prefere notícias online e o mundo vem sendo cada vez moldado pelos meios de comunicação

Autor: Frei Betto | informacion@granmai.cu

Setembro, 2019

Foto: Martirena

 

Definha o interesse por notícias impressas ou televisivas. Pesquisas revelam que o público prefere notícias online.

Nos séculos XIX e XX, o modo de pensar da sociedade tendia a ser moldado pelos grandes meios de comunicação: imprensa escrita, rádio e TV.

Tudo indica que terminou aquela era. Trump elegeu-se atacando a grande midia dos EUA. Só a Fox o apoiou. Os principais veículos da midia britânica opuseram-se ao Brexit. Ainda assim a maioria dos eleitores votou a favor dele. Bolsonaro fez campanha presidencial quase ausente da grande midia. Criticou os principais veículos, e ainda assim elegeu-se. O que acontece de novo?

O novo são as redes digitais, as novas tecnologias ao alcance da mão. Elas deslocam a notícia dos grandes veículos para computadores e smartphones. Têm o mérito de democratizar a informação, rompendo a barreira ideológica que evitava opiniões contrárias à orientação editorial do veículo.

Contudo, pulverizam a notícia. O que é manchete na TV não merece destaque na comunicação interpersonalizada na Internet. O receptor corre o risco de perder ou não adquirir critérios de valoração das notícias. Pode ser que lhe seja mais importante ficar ciente de que o seu colega tem nova namorada do que inteirado do golpe de Estado no país vizinho ou da nova lei que regula o trânsito no seu bairro.

Essa informação individualizada, embora mais cómoda, prêt-à-porter, tende a evitar o contraditório. Cada interessado isola-se no interior da sua tribo no Whatsapp, no Twitter, no Facebook, no Instagram, no YouTube, no Telegram, nos serviços de mensagens no Google e do Periscope. Não há interacção dialógica. Não interessa o que dizem as tribos vizinhas, potenciais inimigas. O que transmitem não merece crédito. A única verdade é a que circula na tribo com a qual o internauta se identifica. Ainda que essa «verdade» seja fake news, mentira deslavada, farsa. Apenas um dialecto faz sentido para o internauta. Desprovido de visão conjuntural, ele agarra-se ao que propagam os seus parceiros como quem acolhe oráculos divinos.

Querer mudar-lhe o foco é como se alguém tentasse convencer os astecas contemporâneos de cortes de que o Sol haveria de despontar no horizonte ainda que eles não despertassem de madrugada para celebrar os ritos capazes de acendê-lo. Com certeza não ousariam correr o risco de ver o dia inundado de escuridão.

Eis a privatização da notícia. Essa selectividade individualizada faz com que o internauta se encerre com a sua tribo na fortaleza virtual dotada de agressivas armas de defesa e ataque. Se a versão emitida pela tribo inimiga lhe chegar, será imediatamente repelida, deletada ou respondida por uma bateria de impropérios e ofensas. É dever da sua tribo disseminar em larga escala a única verdade admissível, ainda que careça de fundamento, como a teoria do terraplanismo.

Os efeitos dessa atomização das comunicações virtuais são deletérios: perda da visão de conjunto; descrédito dos métodos científicos; indiferença ao conhecimento historicamente acumulado; e, sobretudo, total desprezo por princípios éticos. Qualquer um que se expresse em linguagem que não coincida com a da tribo merece ser atacado, injuriado, difamado e ridicularizado.

O que fazer frente a essa nova situação? Desconectar-se? Ora, isso seria bancar a tartaruga que recolhe a cabeça para dentro do casco e, assim, se julga invisível. A saída deve ser ética. O que implica tolerância e não revidar no mesmo tom. Como sugere Jesus, «não atirar pérolas aos porcos» (Mateus 7,6). Deixar que chafurdem na lama sem, no entanto, os ofender.

A vida é muito curta para que o tempo seja gasto em guerras virtuais. Quanto a mim, prefiro ignorar ataques e actuar propositivamente. Sobretudo, não trocar a sociabilidade real pela conflituosidade virtual. E muito menos livros por memos e zapps que nada acrescentam à minha cultura e à minha espiritualidade. (Reproduzido do site http://ceseep.org.br)

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